FERREL DISSE NÃO AO NUCLEAR HÁ 36 ANOS


Faz 36 anos nesta quinta-feira, 15 de Março, que o povo de Ferrel se manifestou e parou a os trabalhos para a construção da central nuclear projetada para esse território.

A fim de marcar essa data decorre na quarta-feira, dia 14, numa sessão que vai contar com a presença dos presidentes da Câmara Municipal de Peniche, António José Correia, e da Junta de Freguesia de Ferrel, Silvino João.

Nesta estarão ainda presentes António Eloy, ambientalista e especialista na área da Energias em Portugal e José Luís de Almeida Silva, diretor da Gazeta das Caldas, que organizou em 1978 o Festival Pela Vida e Contra o Nuclear.

Estes tiveram também um papel ativo nos acontecimentos de Ferrel e que levaram primeiro ao levantamento dos populares e depois à manifestação nacional que protestaram contra a ameaça da instalação duma primeira central nuclear em Portugal.

Desta comemoração faz parte o International Uranium Film Festival que acontece pelo segundo ano consecutivo no Brasil, sendo esta uma extensão do festival de filmes sobre energia nuclear em Portugal.

Na iniciativa poderão ser vistos os filmes “Urânio em Nisa Não!”, o documentário norte-americano “Yellowcake” e Pedra Podre, que retrata as centrais nucleares do Brasil.

102fm-radio Peniche

Fukushima: a crise que não termina


Um ano depois da tragédia, o entulho ainda se acumula, não há reconstrução, o perigo nuclear persiste. E novas revelações mostram que nos dias seguintes à catástrofe a situação esteve mesmo fora de controlo.

Desde que ocorreu a tragédia do 11 de marco, o terremoto seguido de tsunami, no ano passado, foram publicadas uma grande quantidade de reportagens. Mas ainda continuam a aparecer factos novos ou obscuros sobre o que aconteceu naqueles dias e as suas consequências.

Entulho ainda amontoado

O número de mortos foi de 15.645 e os desaparecidos 4.984, totalizando 20.629. Desses, 1.046 tinham 19 anos ou menos, entre mortos e desaparecidos. Não resta duvida que a dor da tragédia é profunda e não há como eliminá-la em tão pouco tempo.

O avassalador tsunami destruiu algo em torno de 500 quilómetros de costa. Desde então, não se conseguiu sequer resolver o problema dos 22,53 milhões de toneladas de entulho e lixo gerados na ocasião. O entulho amontoado formam montanhas e, em Ishinomaki, na provincial de Miyagi, têm forma piramidal. É a mais concreta demonstração da calamidade ocorrida. Uma outra parte dos escombros flutua no oceano Pacífico em direção aos EUA, devendo chegar à costa americana em 2016.

As províncias afetadas estão a lutar para que as demais províncias do arquipélago colaborem para incinerar o lixo produzido, mas, com a falta de credibilidade que tomou conta do país, ninguém acredita que esse lixo esteja isento de radiação prejudicial e, por isso, a resistência a colaborar é enorme.

Na região de Touhoku, o nordeste japonês, milhares de famílias abandonaram a área, e, nas três mais atingidas províncias, Iwate, Miyagi e Fukushima, esse numero ultrapassou mais de 41 mil moradores. A costa atingida virou uma área deserta e a propagada “reconstrução” ainda não deu mostras de que, realmente, ira ocorrer. As escolas, com poucos alunos, estão com dificuldades de voltar a funcionar. Hospitais e comércio continuam praticamente existentes em varias localidades. É uma situação muito distinta de quando ocorreu o terremoto de Kobe e a cidade foi rapidamente reconstruída.

Com a destruição e, sem reconstrução, milhares de pessoas estão impossibilitadas de voltar a trabalhar na área afetada. Dos cerca de 27 mil negócios comerciais e industriais, cerca de 6 mil decidiram interromper temporariamente ou definitivamente as suas atividades.

573 mortos pela crise nuclear

O tsunami de 21 metros que atingiu Fukushima provocou uma das maiores tragédias nucleares da história. Mas é preciso delimitar a responsabilidade humana na tragédia e atual crise nuclear.

Passado um ano, sabemos algumas coisas, mas, muito provavelmente, nunca saberemos realmente o que ocorreu naquele dia e nos posteriores que se seguiram à tragédia. Ao contrário do que se afirmava na época, tanto o governo quanto a TEPCO, operadora da central nuclear, hoje sabemos que houve meltdown (derretimento) em 3 dos 6 reatores da usina. Tanto a TEPCO quanto o governo, desde o acidente, contaram tantas mentiras que, hoje, a palavra credibilidade na sociedade japonesa pode ser, inclusive, retirada do dicionário. Ninguém acredita mais em nada.

Dias atrás, ficamos a saber também que, no auge da crise, a direção da TEPCO ameaçou abandonar a central nuclear à própria sorte e, se isso tivesse ocorrido, teria colocado em risco milhões de pessoas, num verdadeiro salve-se quem puder. Mas, enquanto essa grave situação se desenrolava, o governo afirmava, cinicamente, que a situação estava sob controlo! Um cinismo decorrente do desespero no momento em que a situação estava completamente fora do controlo.

Radioatividade continua a seruma ameaça

Sabemos também que, devido ao meltdown, foi lançada, no meio ambiente, uma grande quantidade de radioatividade Mas, também nesse caso, ninguém tem garantia de que a quantidade divulgada seja verdadeira. Sabemos que a radioatividade viajou, pelo ar, dezenas de quilómetros, centenas e até alguns milhares. Tanto a TEPCO quanto o governo alegam que essa radioatividade não foi e não é prejudicial à saúde, excetuando-se a zona proibida num raio de 20 km em volta da central. Sabemos que a TEPCO, autorizada pelo governo do então primeiro-ministro Naoto Kan, lançou uma grande quantidade de água contaminada pela radiação no oceano Pacifico. Não apenas lançou como promete lançar mais ainda durante este mês. As consequências ambientais dessa desesperada e irresponsável medida só poderão ser verificadas em vários anos, através de pesquisas cientificas.

A radioatividade arrasou a agricultura e a criação de animais local. Existe uma forte rejeição por produtos da região de Fukushima. Nesse ultimo ano, várias vezes foram detetadas um alto nível de radioatividade no arroz produzido nessa província, mesmo após o governo ter declarado que era seguro.

A minhoca atómica

Pesquisas recentes demonstraram que minhocas coletadas no vilarejo de Kawauchi, próxima a Fukushima 1, apresentaram uma grande quantidade de cesium. Um nível elevado. Como vários animais e pássaros se alimentam de minhocas, os pesquisadores dizem que a contaminação irá passar para outros animais através da cadeia alimentar. Fukushima já havia produzido a vaca atómica, o javali atómico, e agora temos a minhoca atómica, mas, seguramente, novas espécies serão integradas à lista.

Crise arrasou a vida da população local

Até o momento, segundo dados de fevereiro, o governo reconheceu que 573 pessoas morreram devido ao desastre nuclear. Mas é um numero que irá ainda crescer. O governo emite um certificado que é o reconhecimento de que a pessoa morreu não por causas diretas, mas indiretas, como fadiga ou agravamento de doenças crónicas devido ao desastre. Nada menos que 748 já registaram seu pedido de reconhecimento, mas vários casos ainda não tiveram resposta. Se a pessoa morta era um arrimo de família, uma quantia de condolência de 5 milhões de ienes é paga para a família. Uma bagatela no que se refere ao Japão.

Cerca de 25 mil pessoas serão impossibilitadas de voltar aos seus lares, na zona de entrada proibida, por pelo menos 5 anos. Mas sabemos que também pode ser por varias décadas. O que, para os idosos, significa nunca mais.

Os animais domésticos foram abandonados à própria sorte e muitos deles se tornaram selvagens e arredios ao contacto humano. Mais de 300 cães e gatos estão em abrigos, sem que os seus antigos donos possam resgatá-los por não terem como mantê-los nas moradias provisórias.

Não deixa de ser impressionante que, mesmo com cerca de 600 mortos devido ao desastre, nenhum executivo da TEPCO tenha ido para a prisão e a responsabilidade por essas mortes e todo o transtorno social, que não se restringe apenas a Fukushima, permaneça na impunidade.

Crise nuclear longe do controlo

O governo e a TEPCO declararam, no final do ano passado, que se havia chegado ao controle da situação, já que os reatores estavam estabilizados. Mas o que não foi alardeado é que, para se manter essa situação de controlo aparente é necessário injetar água continuamente nos reatores para manter a temperatura em torno de 100 graus centígrados. E não disse também que isso terá de continuar não se sabe por quantos anos, gerando uma quantidade colossal de água radioativa que não tem onde ser armazenada.

Durante o ano que passou, fortes terremotos têm ocorrido sistematicamente na região da central nuclear. Não há nenhuma lei que impeça que um terremoto atinja diretamente a central ou suas proximidades. É mais que evidente que a estrutura da central está bastante abalada e não há nenhuma garantia de que possa resistir caso um forte terremoto provoque uma nova tragédia. O que será feito nos próximos anos para amenizar essa situação? Essa resposta ninguém sabe.

Crise nuclear acirra crise capitalista

A crise nuclear gerou um forte repúdio na pacata população japonesa. Ninguém quer uma central nuclear a funcionar próximo da sua moradia. Essa situação, onde a maioria dos reatores nucleares estão desativados, criou uma profunda crise energética. Durante o verão passado e este inverno, o consumo de energia nos momentos de pico chegou próximo ao colapso, e, em algumas áreas, chegou aos 97% de utilização. Essa situação estrangula o país, já que as empresas não podem fazer nenhum plano de expansão interna e com a ameaça de aumento das tarifas elétricas muitas estão optando por sair fora do arquipélago.

Junto com a alta do iene, a crise energética é um dos fatores a contribuir para que a economia japonesa continue a afundar-se. Devido ao papel que o Japão ocupa no sistema capitalista, a crise japonesa apenas ajuda a acirrar a crise capitalista que a cada dia é mais aguda.

TOMI MORI esquerda.net 11.03.12