Festival brasileiro Urânio em Movi(e)mento volta à Alemanha

"Final picture" mostra as consequências de uma guerra atômica numa pequena cidade alemã
O Festival Urânio em Movi(e)mento foi o primeiro exclusivamente dedicado ao tema da energia nuclear. Seus filmes abordam o assunto sob os mais variados aspectos: a mineração, a produção de bombas atômicas, as usinas nucleares, a medicina nuclear e o lixo atômico, para citar apenas alguns.
"Esse é um dos assuntos mais importantes deste século, mas ainda é pouco discutido entre a população do Brasil e do mundo. A questão da energia é a questão do século 21, sendo a energia nuclear um ponto chave nessa discussão. Para decidir qual forma de energia nós queremos, é essencial conhecer todas as vantagens e todos os riscos da energia nuclear, e o festival trabalha para isso", diz Márcia Gomes, uma das fundadoras, em entrevista à DW Brasil.

O festival tenta criar um espaço neutro, onde todas as questões referentes à energia nuclear possam ser expostas e debatidas. São apresentados documentários, animações e filmes de ficção que muitas vezes ficam de fora da programação das salas de cinemas e das redes de televisão. "Toda a população precisa conhecer a história e os resultados das bombas atômicas e saber dos resultados de acidentes nucleares, como Three Mile Island, Chernobyl e Goiânia. Os filmes do festival mostram isso", completa Gomes.
Destaque na Alemanha
A 4º edição aconteceu entre 14 a 25 de maio na Cinemateca do Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro. O programa foi composto por 63 filmes de 25 países. Parte desse programa poderá ser visto nas próximas semanas pelo público alemão em Berlim, Wunsiedel e Passau, sob o nome Uranium Film Festival.
Esta é a terceira vez que o Urânio em Movi(e)mento acontece na capital alemã. "Em Berlim, a experiência foi diferente. Muitas pessoas acharam que o assunto nuclear não tinha mais nenhuma importância e ficaram em casa. Os poucos que compareceram ficaram encantados com os filmes e pediram que continuássemos a levar o festival para a cidade. Por isso estamos em Berlim mais uma vez", diz a fundadora.
Entre os destaques da versão alemã estão filmes como o grego To dig or not to dig, que mosta uma cidade no sul da Grécia que se tornou centro de uma batalha no campo dos minerais. A delicada animação Abita aborda as crianças de Fukushima que não podem brincar ao ar livre por causa do risco de contaminação.
"Temos vários filmes interessantes no programa. Fukushame, do italiano Alessandro Tesei, é muito interessante. Ele estará presente na sessão em Berlim. O festival já recebeu 12 filmes sobre Fukushima. O problema continua, e situação de Fukushima ainda está muito quente", comenta Gomes, que também elogia o alemão Final picture, de Michael von Hohenberg. O longa mostra o que acontece numa pequena cidade no meio do país depois de uma guerra atômica. O filme abre a versão alemã do festival, com a presença da equipe e do elenco.
Do Rio para o mundo
Fundado um ano antes do desastre em Fukushima, o festival não atrai apenas a atenção dos alemães, mas de audiências em todo o mundo. Ele já passou por Lisboa, Nova Déli, Washington, Window Rock, São Paulo, Recife, Salvador, Natal, Nova York, Santa Fé e Mumbai, além de Berlim e Munique. Em 2014, ainda deve passar por Amã, na Jordânia. Além disso, o povo indígena cree estará presente em Berlim. Eles querem levar o festival para o Canadá em 2015.
"Todo país tem uma deficiência do saber da população sobre esse assunto. Na Índia, universidades e escolas abriram as portas para os nossos filmes. Salas de exibições cheias e perguntas sem fim, o festival foi assim nas duas vezes que estivemos na Índia", conta Gomes.
Outro ponto positivo do festival é transformar a questão nuclear, que muitas vezes é vista como técnica e inacessível, num tema de fácil discussão. É um enorme desafio para os cineastas retratar algo que é invisível, sem cheiro, gosto e som, mas que pode ser mortal ou afetar a saúde de várias gerações.
O Festival Urânio em Movi(e)mento (Uranium Film Festival) acontece em Berlim (de 29/09 até 03/10), Wunsiedel (04/10) e Passau (de 06/10 até 03/11).


OS ATAQUES NUCLEARES A HIROSHIMA E NAGASAKI

O primeiro ataque

Em 6 de agosto de 1945, o avião "Enola Gay" lançou, sobre Hiroshima, a primeira bomba atômica da história das guerras. A bomba carregava o inocente apelido de "Little Boy". A cidade tinha então 350 mil habitantes. Um em cada cinco morreu em questão de segundos. Hiroshima foi praticamente varrida do mapa.
fonte: http://www.dw.de/festival-brasileiro-urânio-em-moviemento-volta-à-alemanha/a-17958083